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NOTA 7,5 Atuação de Meryl Streep acaba sendo muito maior que o próprio filme em si acusado de manipular fatos |
Poderia uma interpretação excepcional salvar um filme ou simplesmente ela se mostrar muito maior que a produção em si? É um equívoco uma grande atuação em um longa irregular? Tais indagações certamente devem surgir para aqueles que não assistiram, mas leram os inúmeros comentários negativos sobre A Dama de Ferro, um polêmico trabalho que enfoca a trajetória política e pessoal da ex-primeira ministra britânica Margareth Thatcher, uma das mulheres mais importantes da História política mundial. Críticos do mundo todo se demonstraram pouco receptivos ao longa chamando-o de medíocre, fraco, tolo, mentiroso, manipulador, entre outras tantas coisas nada amistosas. Unanimidade mesmo somente foi o consenso de que mais uma vez a atriz Meryl Streep deu um banho de talento e competência interpretando a ilustre personalidade e merecidamente foi laureada na maioria das premiações da temporada. Ela bateu seu próprio recorde de indicações ao Oscar chegando a nomeação de numero 17 e surpreendeu conquistando sua terceira estatueta dourada quando todos, inclusive a própria atriz, acreditavam que só era questão de tempo para a Academia de Cinema lhe oferecer um troféu pelo conjunto da obra. Felizmente, os membros votantes ainda têm um ou outro momento de lucidez e premia quem realmente merece sem pensar na matemática absurda das vezes que um candidato foi indicado ou sagrou-se vencedor. O grande ponto que desagrada muita gente é que o roteiro de Abi Morgan não se propõe a ser uma muleta para uma aula de história ou de política esmiuçando com clareza e imparcialidade o porquê da Inglaterra ter se tornado uma nação tão próspera e a participação da ex-premiê no conflito da Guerra Fria. Governante do Reino Unido entre 1979 e 1990, Margareth tinha pulso firme e decisões próprias, dificilmente alguém a persuadia. No filme, os fatos da vida pública são contados em paralelo aos acontecimentos de sua vida privada, mas jamais a protagonista é julgada ou condenada por seus atos. Simplesmente os episódios são contados pela ótica da protagonista, assim não temos a versão franca daqueles que eram contra as suas propostas. Embora os casos políticos expostos sejam vários e ocupem boa parte da trama, infelizmente muitos se apegaram a idéia de que a diretora Phyllida Lloyd, que já havia trabalhado com Meryl em Mamma Mia!, quis mostrar um retrato melancólico e triste apostando em um leve choque. Lembrada pelo seu governo levado a mãos de ferro, o longa já começa nos mostrando a protagonista idosa e em uma situação que em nada nos remete as imagens da mulher firme, corajosa e inteligente que recheava os noticiários do passado. Ligeiramente corcunda, com vestes simplórias e se espantando com o preço de meio litro de leite, tal imagem é bastante eficiente para fisgar a atenção, mas curiosamente causou efeito contrário.

No conjunto, A Dama de Ferro não é o horror que os críticos propagaram e ainda o fazem. É uma produção bem feita e com uma boa narrativa que encontra eficientes soluções para expor o necessário sobre a personalidade da homenageada sem se aprofundar em sua figura pública, mas demonstrando um interesse maior em desvendar quem era a mulher por trás daquela imagem que ficou conhecida por um semblante quase que blindado. Dessa forma, o título utiliza a alcunha pela qual ela ficou conhecida quase que de forma irônica, ou melhor, dúbia, pois apesar das inúmeras críticas temos em cena sim a mulher de ferro e a mulher de carne e osso brilhantemente representadas por atuações de uma mesma atriz, mas com diferenciais impressionantes. Talhado para causar frisson nas premiações, o projeto corre o risco de com o passar dos anos acabar ficando conhecido tal qual A Escolha de Sofia, “o filme que deu o Oscar a Meryl Streep”. Todavia, são vários os exemplos de filmes acerca de fatos político-históricos que chegam a torrar a paciência do espectador com tantos detalhes. Esta obra ao menos tem o mérito de levar o assunto nas doses certas para atingir um público mais amplo e instigá-lo a conhecer mais sobre quem foi e a importância de Margareth Thatcher não só para a Inglaterra como para o mundo todo, afinal suas idéias certamente fizeram e ainda fazem a cabeça de muitos. Como dito antes, o filme não se propõe a substituir uma aula, embora conte com algumas cenas de arquivos entrelaçadas de forma irrepreensível com reconstituições. Quer saber mais? Procure em livros e na internet, certamente a descoberta dos detalhes que o filme omitiu ou atenuou terão um gostinho bem melhor do que se fossem entregues mastigadinhos no roteiro. Para curtir esta produção plenamente é preciso se permitir a invadir a privacidade da protagonista e tonar-se íntimo dela, todavia, se não fosse o magnetismo difundido por Meryl provavelmente o filme não passaria de um amontoado de fatos alinhavados de forma frágil. Dificilmente uma obra cinematográfica sobrevive sem um bom roteiro, mas os trabalhos deste obelisco da interpretação é uma exceção à regra. Sua presença definitivamente é maior que qualquer enredo.
Vencedor do Oscar de atriz (Meryl Streep) e maquiagem
Vencedor do Oscar de atriz (Meryl Streep) e maquiagem
Drama - 105 min - 2011
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